Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


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terça-feira, 13 de outubro de 2009

SÉRIE “PEDRINHO”




Lourenço Filho (1897-1970) foi educador, autor de livros didáticos e organizador de várias coletâneas escolares.

A série de leitura graduada “Pedrinho”, de sua autoria, é composta de textos para serem usados nos primeiros anos escolares e foi publicada em 1955, com inúmeras edições.

Organizada para as escolas primárias, contém uma Cartilha, quatro livros para as séries do curso primário e um quinto para o aperfeiçoamento da leitura.

PEDRINHO é o nome do personagem do ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’ de Monteiro Lobato. Será coincidência?
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE disponibiliza para pesquisa vários títulos de Lourenço Filho, incluindo sua produção voltada para a formação de professores.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Fábulas e Educação



No universo da literatura infantil, a fábula é considerada um gênero literário didático e foi muito usada nas escolas como instrumento educativo, principalmente nas primeiras décadas do século XX.
Na definição do Dicionário Houaiss, fábula é narração popular de fatos imaginados; curta narrativa em prosa ou verso que ilustra um preceito moral; história fantasiosa. Fabular é sinônimo de fantasiar e fabuloso significa o que ultrapassa a imaginação: que sendo real, parece imaginário, incrível. Geralmente as fábulas usam animais como protagonistas.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE mantém livros escolares e paradidáticos (livros usados como apoio: os livros de leitura e as antologias literárias, por ex.) que contém fábulas como recurso didático.
Destaco Poesias Infantis[1] de Olavo Bilac (1865-1918) poeta parnasiano que produziu inúmeros livros escolares. Com 1ª edição em 1904, (até 1961, foram publicadas 27 edições), esse livro traz poemas adaptados de fábulas famosas, como a Cigarra e a Formiga. Na capa, a menção para o seu uso: “Livro approvado, adoptado e premiado pelo Conselho Superior de Instrução Pública do Distrito Federal”.
Outro livro é Fábulas imitadas de Esopo e de La Fontaine adotadas para leitura escolar.[2]
Como esse gênero de literatura era usado nas práticas educativas? Bem, ilustro com um exercício contido no livro Novo Manual de Língua Portugueza para uso nas escolas secundárias[3]. Na página 271, no subtítulo Leitura e Recitação há a fábula A Cigarra e a Formiga e logo abaixo um exercício chamado Estudo Analítico, com as seguintes questões:

a) A qual bichinho dais vossa simpatia e porque?
b) Como chamais o defeito da cigarra?
c) E o da formiga?
d) Que exemplo tiramos dessa fábula?

Em uma pesquisa no ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR encontramos inúmeras fábulas, principalmente em livros de leitura, o que demonstra o largo uso desse gênero literário nas escolas.
A literatura infantil, entre outras funções, fornece exemplos, modelos de comportamento, valores morais a serem seguidos etc., muitas vezes sem questionamento, nem contexto.
Por que a fábula foi e ainda é usada como recurso didático? Eis algumas especificidades da fábula, que facilitam o seu uso para crianças:

* São textos curtos, concisos; não cansam e rapidamente concluem uma história. Por serem curtas, as fábulas são facilmente memorizadas e se prestam a exercícios de reescrita.
* Antes mesmo dos 6 anos, quando inicia-se a aquisição da técnica da leitura, a fábula estimula a imaginação infantil, a criatividade etc.
* Ausência de indicações precisas de tempo e espaço. “Um regato, uma floresta, muito longe daqui, há muito tempo atrás...”
* Trazem, na maioria das vezes, animais como personagens, o que seduz a criança;
* Traduzem certos comportamentos e com isso demonstram uma simbologia que é universal.
As fábulas apresentam um universo simbólico de sentimentos que permeia a sociedade. Contém valores e situações comuns a todos.
Com isso, ao mesmo tempo que desperta o interesse pela leitura, com textos não cansativos, a fábula transmite valores e comportamentos. Mas quais?
Em uma leitura mais demorada, por exemplo, o que vemos?
Virtudes como bondade, solidariedade, compreensão, paciência, ao lado de certa esperteza, astúcia, vingança, maldade etc.
Muitas chegam à violência: a tartaruga que fala muito, cai e se despedaça; a formiga deixa a cigarra morrer de fome; o lobo esquarteja e come o cordeiro; a raposa que fica sem os olhos etc.
A moral das fábulas adquiriu vida própria e se transformou em provérbios: frases prontas, vindas do conhecimento popular, transmitidas oralmente e que encerram certo ensinamento sob algum aspecto da vida e na maioria das vezes, conservam um quadro de valores. Quem já não ouviu “Devagar e sempre se vai ao longe”, menção à fábula A lebre e a tartaruga de Esopo?
Bem a possibilidade de usar o fantástico, sem dúvida é um atrativo para crianças e jovens. Então, como usar hoje o gênero fabular? Quais valores nós queremos transmitir?
Histórias que não reafirmem preconceitos; que traduzam a diversidade, a convivência com o diferente, a solidariedade; a afetividade; a relação mais adequada com a natureza e principalmente e aí, diferentemente das fábulas tradicionais, que nada está dado como se sempre fosse assim e que podemos alavancar mudanças.









[1] BILAC, Olavo. São Paulo, Francisco Alves, 1924.
[2] ROCHA, J. J. São Paulo, Livraria Francisco Alves, 1913.
[3] Por uma reunião de professores. Livraria Francisco Alves, 1916.