Se pensarmos sobre um livro paradidático publicado em 1910, reeditado até os anos de 1960 e recomendado para uso nas escolas, podemos afirmar que compôs a trajetória escolar de várias gerações e marcou a historia do país.
Referimo-nos a Através do Brasil (narrativa) de Olavo Bilac(1) e Manoel Bomfim(2), editado como prática da Língua Portuguesa pela Livraria Francisco Alves.
Pois esse livro, voltado para o Curso Médio das Escolas Primárias, que correspondia aos dois últimos anos, abre com uma Advertência e Explicação. Nela os autores reiteram indicações pedagógicas daquele momento, em que o livro único de leitura era recomendado e assim ponto de partida dos ensinamentos de português, história, geografia e lições de coisas.(3) Essa prática que considera o professor centro do conhecimento, visto que parte dele a construção dos ensinamentos é identificada como educação tradicional, corrente pedagógica que será questionada pelo Movimento da Escola Nova, principalmente a partir da década de 1930.
Através do Brasil, na edição de 1955, contém 314 páginas; é dividido em 82 capítulos e ilustrado, segundo os autores, com fotografias. As ilustrações são desenhos, talvez a partir de fotografias ou outras imagens. Deixo essa questão para os especialistas. O livro traz também um pequeno léxico.
O livro é uma narrativa na qual duas crianças, Carlos e Alfredo, viajam pelo país a partir de Recife em busca do pai e nisso passam por vários lugares, conhecem paisagens, costumes diferentes e vivem diversas situações. Assim a publicação traça um panorama do Brasil nessa pequena saga e também trata da formação de uma identidade nacional, traço marcante do período da Primeira República (1889-1930).
Como usar esse livro único em sala de aula? Os autores fornecem uma série de dicas, como por exemplo: “Uma lição de geografia... A primeira lição do programa: terras e mares, acidentes geográficos. No segundo capítulo, o livro fala em mar... ao passo que o trem avança para o interior do continente, entre montanhas, rios etc.” (p. X ).
Esse e tantos outros livros que serão destacados nesse Blog sob o titulo de Leituras que formaram gerações foram editados no início do século 20, reeditados por muito tempo e retratam um período da Educação no país do momento de consolidação dos grupos escolares e de um projeto educativo republicano.
Não se trata aqui de grandes análises nesse sentido, mas sim de mostrar o alcance do livro escolar como fonte de pesquisa, como parte da cultura material e expressão de determinado contexto.
Notas:
(1) Olavo Bilac (1865-1918): jornalista, poeta e autor de vários livros escolares.
(2) Manoel Bomfim (1868-1932): médico, pedagogo e historiador.
(3) “Noções de cosmografia e de ciências físicas e naturais”, frase do próprio livro. "Lições de coisas" foi introduzido no Brasil na segunda metade do século 19 e é parte do método intuitivo, aplicado ao estudo científico das coisas, centrado na observação e experiência da criança.
Azilde,
ResponderExcluirMuito interessante seu blog! Parabéns!
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