Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma viagem ao mundo da higiene



Higienismo, termo que designa os cuidados com a higiene ou a formação de hábitos sadios, foi uma preocupação dos poderes públicos nas primeiras décadas do século XX.
O processo de urbanização que concentrou a população implicou no desafio em melhorar as condições do meio para a eliminação de doenças e epidemias, tais como tuberculose, malária, varíola etc. Desse modo, o habitante da cidade precisava adquirir novos hábitos em relação à habitação, a alimentação, ao saneamento e a higiene.
A criação do Instituto de Higiene,[1] em 1918, em São Paulo, foi um exemplo da necessidade de instrumentos para se enfrentar e melhorar as condições sanitárias da cidade.
Dentre os recursos utilizados para a disseminação de novos hábitos à população, sem dúvida a escola foi uma das instâncias para informar e educar as crianças sobre saúde e higiene.
Assim, vários livros didáticos ou de uso escolar foram editados abordando esses ensinamentos. O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR mantém alguns títulos que tratam dessa questão desde os anos de 1930 até 1970, claro que demonstrando mudanças na abordagem do tema Afinal o livro didático deve ser analisado como parte de um contexto mais amplo e nesse sentido, é um material que pode traduzir aspectos culturais e sócio-econômicos de um período.
Destacamos um desses livros em especial, não só pela temática, mas também pela autoria. Trata-se de “Aventuras no mundo da Higiene” de Érico Veríssimo.
O livro, da editora Globo de Porto Alegre, foi editado em 1939 e traz, de forma lúdica e com inúmeras ilustrações de João Fahrion, uma viagem, nas palavras do autor, sobre as noções de higiene.
Utilizando como recurso o encontro de duas crianças, uma magra e pálida e outra robusta e a figura do dr. Salus, o autor trata de lições de higiene, de alimentação e de bons hábitos em geral.
Esse e outros livros sobre o tema estão a disposição de interessados e pesquisadores. (2)




[1] Sobre o Instituto de Higiene ver ROCHA, Heloisa Helena. “Higienização dos Costumes: educação escolar e saúde no Projeto do Instituto de Hygiene de São Paulo (1918-1925)”, Campinas, Mercado de Letras, 2006.
(2) A Coleção "Bibliotheca Popular de Hygiene", por exemplo, de autoria do Dr. Sebastião M. Barroso, publicada nos anos de 1930.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Livros de formação de professores: as antigas Escolas Normais






A Biblioteca Monteiro Lobato foi criada em 1936, como equipamento voltado à criança. Sua primeira diretora, Lenyra Fraccaroli, à frente da Biblioteca até 1964, foi normalista da Escola Caetano de Campos, antiga Escola Normal de São Paulo.
Tanto a localização da Biblioteca, próxima a Escola Caetano de Campos[1], quanto a formação de Lenyra foram fatores para a aquisição de um considerável acervo de livros que serviram aos estudantes das Escolas Normais.
Assim, nos registros sobre a história da Biblioteca encontram-se depoimentos sobre a presença de normalistas, que procuravam mapas e gravuras para as suas aulas e também livros para os seus estudos.
Com isso, o Acervo Histórico do Livro Escolar – AHLE, constituído pelos livros resguardados das antigas bibliotecas da cidade de São Paulo, dispõe de mais de 200 títulos destinados aos alunos das antigas Escolas Normais.
Autores, tais como, Cleofanes Lopes de Oliveira, Silveira Bueno e Lourenço Filho, professores da Escola Caetano de Campos, estão representados no acervo.
Por exemplo, o livro "Testes ABC" de Lourenço Filho,[2] ainda com o material dos testes intacto ou "Introdução ao estudo da Escola Nova",[3] do mesmo autor; os manuais pedagógicos, que serviam para a orientação da prática do magistério, como o "Manual do Professor Primário",[4] de Theobaldo Miranda dos Santos, entre outros, fazem parte do AHLE.
Na década de 1930 foram editadas inúmeras publicações voltadas para a formação dos professores, pois nesse período o movimento da Escola Nova, no qual educadores se empenharam em traçar novos rumos à Educação em contraposição ao chamado tradicionalismo pedagógico, tomou corpo no país. A expansão da educação também motivou que os poderes públicos se empenhassem em aprimorar a formação e consolidar a carreira dos profissionais de ensino.
Nesse sentido, livros de órgãos oficiais como "Leitura e Linguagem no Curso primário", do Ministério da Educação, [5] com sugestões para a organização e o desenvolvimento de programas de ensino, retratam as propostas e os conteúdos escolares presentes nas várias reformulações pelas quais passou a Educação.
Outro livro, "Organização dos Museus Escolares",[6] por exemplo, traz as diretrizes do Código de Educação de São Paulo, de 1933, instituído por Fernando de Azevedo, então Diretor da Instrução Pública do Estado, que previa a formação de museus nas escolas.
Destacamos, ainda, o "Manual de Califasia e Arte de Dizer" de Silveira Bueno[7]. Na apresentação o autor, professor de português e de califasia da Escola Caetano de Campos, traz a distinção entre califasia e a arte de dizer. Califasia como o bem pronunciar vocábulos com a máxima perfeição mecânica possível, o articular das consoantes etc. Bueno foi jornalista, poeta e professor e seu livro é precursor dos cursos de oratória ou de como falar em público, pois contempla o gestual, a posição do corpo, a respiração, a fisionomia etc.
Bem, esta foi uma amostra dos livros do AHLE sobre a formação de professores. Espero ter ativado a curiosidade dos que trabalham ou pesquisam sobre Educação. Outras informações acerca do tema serão postadas oportunamente.



[1] A Escola Caetano de Campos, anteriormente Escola Normal de São Paulo, é conhecida também como Escola Normal da Praça. Sua origem é de 1846 e foi a primeira escola para a formação de professores de São Paulo. Reabriu, definitivamente em 1880. Para mais informações, verificar principalmente MONARCHA, Carlos. “ Escola Normal da Praça: o lado noturno das luzes”. Campinas, UNICAMP, 1999.

[2] FILHO, Lourenço. “Testes ABC – para verificação da maturidade necessárias à aprendizagem da leitura e da escrita”.São Paulo, Ed. Melhoramentos, 3ª. Edição revista, 1947. (1ª. Edição em 1933).

[3] LOURENÇO FILHO, Manoel Bergstron. “Introdução ao estudo da Escola Nova”. São Paulo, Melhoramentos, 1967. Consultar SAVIANI, D. “História das Idéias Pedagógicas” Campinas, Autores Associados, 2007, que traz informações sobre essa publicação.

[4] SANTOS, Theobaldo Miranda. “Manual do professor Primário”. São Paulo, Cia Ed. nacional, 3ª. Ed., 1954.

[5] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE. “Leitura e Linguagem no Curso Primário”. Rio de Janeiro, Publicação do Instituto nacional de Estudos pedagógicos – INEP, 2ª. Tiragem revista, 1951.

[6] BUSH, Leontina Silva. “Organização de Museus Escolares”. São Paulo, Ed. Brasileira, 1937.

[7] BUENO, Silveira. “Manual de Califasia e arte de dizer”. São Paulo, Livraria Academica, 1939. Primeira edição, 1930.