Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


Seja bem-vindo.







quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Páginas Infantis


“Páginas Infantis” é um desses livros que retratam muitos aspectos da educação infantil do período em que foi publicado. De autoria de Presciliana Duarte de Almeida e escrito em 1907, a obra foi aprovada pelo Superior Conselho de Instrução de S. Paulo, de Minas e do Distrito Federal.
O livro traz uma carta prefácio de João Kopke,[1] em que o papel da “mulher mãe” é enfatizado como atributo para a escrita desse gênero de literatura para crianças.
Voltado para o aprendizado da língua como livro de leitura entremeia poesia e prosa, incluindo aí o que a autora denomina de “enigmas”, pequenas estrofes que levam a criança a adivinhar do que se trata: uma vaca, um rio etc.
A autora redige um prólogo elogiando a obra do Cônego Schmid,[2] autor preferido por seus filhos, segundo ela. Obras adaptadas e traduzidas do estrangeiro eram comuns em uma época onde não havia ainda uma indústria editorial no país, muito menos a produção de livros voltados a crianças e jovens. Época que muitos denominam “pré-Lobato”, em alusão ao reconhecido autor do “Sitio do Picapau Amarelo”.
Ilustrações e fotografias ilustradas emolduram o livro que reproduz opiniões sobre seu conteúdo através do “Juízo da Imprensa”, cartas de jornalistas e também de alguns educadores. Essas informações estão na 2ª edição do livro, de 1910, que compõe o Acervo Histórico do Livro Escolar – AHLE.
Outro livro de Presciliana, “O Livro das Aves”, em prosa e verso, de 1914, foi encomendado pela Diretoria Geral de Instrução Pública de São Paulo em virtude das festas escolares das árvores e das aves incluídas no calendário escolar desse Estado. Está também a disposição de pesquisadores, entre outros de leitura daquele período.


[1] João Kopke  (1852-1926)  educador e escritor de livros para crianças e jovens. Entre outros estudos, verificar PONIZZOLO, Claudia. “João Kopke e o ensino da leitura e da escrita.” PUC/SP. www.sbhe.org.br e também SANTOS, Maria Lygia Kopke."João Kopke e o Livro Didático", tese doutorado, UNICAMP, 2008.

[2] Cônego Von Schmid (1768-1854) sacerdote católico alemão, escreveu contos de moral religiosa para crianças e jovens e foi publicado pela Ed.  Melhoramentos nas primeiras décadas do século 20.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Livros de Educação profissional



No início do século 20 o Brasil passou por mudanças na sua organização econômica. O processo de industrialização se configurou de forma mais orgânica, a urbanização se acelerou em algumas regiões do país, o comércio, atividade já consolidada, se expandiu. Novas classes sociais se organizam, caso da burguesia industrial e dos trabalhadores das fábricas.

Nesse contexto propostas de formação profissional via educação escolar foram apontadas como necessárias na qualificação da mão de obra e principalmente a partir da década de 1930, a educação profissional foi projeto da classe empresarial. Em 1931 foi criado o Instituto de Organização Racional do Trabalho – IDORT, patrocinado por empresários

Mas já em 1905 o governo central regulamentou cursos comerciais existentes de iniciativa privada e estabeleceu critérios para os que fossem criados. (1)

Em 1926 criou mecanismos de fiscalização, como também currículo e regime escolar mínimo e equipamentos necessários a essas escolas entre outras resoluções. (2)
A reforma educacional "Francisco Campos" de 1931 reorganizou o ensino comercial e as Leis Orgânicas do Ensino da Reforma Capanema (1942) estruturou o ensino profissional, reformulou o ensino comercial e criou o SENAI.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE mantém uma centena de títulos de ensino profissional desde a década de 1940. Formas de organização das relações de trabalho, a especialização de funções, as novas e múltiplas ocupações e os testes vocacionais são alguns dos temas identificados em livros como “Vocação e Orientação” de 1943, “A opção profissional” de 1970 ou a série “Educação para o Trabalho” (orientação para a escolha profissional), da editora Atlas de 1979. (3)

O ensino comercial e industrial a partir da década de 1960 e a proliferação das escolas técnicas, com as mudanças educacionais do período da ditadura militar, definidas pelo acordo MEC-USAID, de assegurar a formação profissional em nível médio, também estão representados no Acervo.

Notas

1. PERES, Fernando Antonio. “Alguns apontamentos sobre o ensino comercial no Brasil”. www.histedbr.fae.unicamp.br

2. Idem

3. “Vocação e Orientação” sem autor, 1943. “A opção profissional”, Fundação Carlos Chagas, 1970; Série “Educação para o Trabalho”, GERENCER, Pavel e Roberto. Atlas, SP, 1979; “Educação para o Trabalho” PILETTI, Cláudio e Nelson, Ática, SP, 1980.



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Livros de História



A civilização material em nossa época parece haver atingido os derradeiros limites.
De quando será essa frase que parece tão atual? Pois encontramos em livro de História Universal, editado originalmente em 1912. Trata-se de Epítome de Historia Universal de Jonathas Serrano.

O Prefácio é de Escragnolle Doria, datado de 1912, ano de publicação do livro, pela Francisco Alves. Ambos foram professores de Historia do Colégio Pedro II.

Claro que o contexto é outro e o autor complementa a frase inicial considerando que só será possível o desenvolvimento se os países se comunicarem e levarem em conta as classes mais baixas (sic), p. 416.

O livro foi adotado no Pedro II, modelo de ensino para o país, na Escola Normal do Distrito Federal e em vários estabelecimentos de instrução da capital da República e dos Estados.

Com 432 páginas, essa publicação é organizada com uma Introdução e as épocas históricas assim definidas: História Antiga, dividida em Antiguidade oriental e clássica; História Moderna; Idade Média e Contemporânea, nessa ordem.
O ensino de História no Brasil data de 1837, no Colégio Pedro II. Nesse mesmo ano é fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

O Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE resguarda mais ou menos trezentos títulos de livros escolares de História, dos cursos primário, ginásio e médio com exemplares datados do século 19 até meados dos anos de 1970. Compõe o Acervo também livros de Estudos Sociais.
Sobre o livro de Serrano o AHLE possui dois exemplares: 1927 e 1929.

Sobre o ensino de História indico uma autora, entre outras que se dedicam a esses estudos. Trata-se de Circe Maria Fernandes Bittencourt, Ensino de História: Fundamentos e Métodos, Ed. Cortez.

Há um blog que traz informações sobre ensino de história: historiadoensinoblogspot.com













quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Leituras que formaram gerações: Através do Brasil




Se pensarmos sobre um livro paradidático publicado em 1910, reeditado até os anos de 1960 e recomendado para uso nas escolas, podemos afirmar que compôs a trajetória escolar de várias gerações e marcou a historia do país.


Referimo-nos a Através do Brasil (narrativa) de Olavo Bilac(1) e Manoel Bomfim(2), editado como prática da Língua Portuguesa pela Livraria Francisco Alves.

Pois esse livro, voltado para o Curso Médio das Escolas Primárias, que correspondia aos dois últimos anos, abre com uma Advertência e Explicação. Nela os autores reiteram indicações pedagógicas daquele momento, em que o livro único de leitura era recomendado e assim ponto de partida dos ensinamentos de português, história, geografia e lições de coisas.(3) Essa prática que considera o professor centro do conhecimento, visto que parte dele a construção dos ensinamentos é identificada como educação tradicional, corrente pedagógica que será questionada pelo Movimento da Escola Nova, principalmente a partir da década de 1930.

Através do Brasil, na edição de 1955, contém 314 páginas; é dividido em 82 capítulos e ilustrado, segundo os autores, com fotografias. As ilustrações são desenhos, talvez a partir de fotografias ou outras imagens. Deixo essa questão para os especialistas. O livro traz também um pequeno léxico.

O livro é uma narrativa na qual duas crianças, Carlos e Alfredo, viajam pelo país a partir de Recife em busca do pai e nisso passam por vários lugares, conhecem paisagens, costumes diferentes e vivem diversas situações. Assim a publicação traça um panorama do Brasil nessa pequena saga e também trata da formação de uma identidade nacional, traço marcante do período da Primeira República (1889-1930).

Na França, em 1877, livro semelhante foi publicado: “Le Tour de La France par Deux Enfants” (Viagem ao redor da França por duas crianças) de G. Bruno e provavelmente foi fonte de inspiração.

Como usar esse livro único em sala de aula? Os autores fornecem uma série de dicas, como por exemplo: “Uma lição de geografia... A primeira lição do programa: terras e mares, acidentes geográficos. No segundo capítulo, o livro fala em mar... ao passo que o trem avança para o interior do continente, entre montanhas, rios etc.” (p. X ).

Esse e tantos outros livros que serão destacados nesse Blog sob o titulo de Leituras que formaram gerações foram editados no início do século 20, reeditados por muito tempo e retratam um período da Educação no país do momento de consolidação dos grupos escolares e de um projeto educativo republicano.

Não se trata aqui de grandes análises nesse sentido, mas sim de mostrar o alcance do livro escolar como fonte de pesquisa, como parte da cultura material e expressão de determinado contexto.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE possui as edições de 1955 (41ª edição revista) e 1962 (45ª edição) do Através do Brasil. A obra foi reeditada pela Cia das Letras, em 2000, com a organização de Marisa Lajolo.



Notas:

(1) Olavo Bilac (1865-1918): jornalista, poeta e autor de vários livros escolares.


(2) Manoel Bomfim (1868-1932): médico, pedagogo e historiador.

(3) “Noções de cosmografia e de ciências físicas e naturais”, frase do próprio livro. "Lições de coisas" foi introduzido no Brasil na segunda metade do século 19 e é parte do método intuitivo, aplicado ao estudo científico das coisas, centrado na observação e experiência da criança.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Livros de Leitura Escolar - Os Lusiadas

Os Lusíadas, poema épico de Luis de Camões, foi publicado, com alterações, em 1879 por Abílio Cesar Borges (1858-1891). Editado em Bruxelas pela Typographia e Lithographia E. Guyot, o livro traz na capa: “para uso das escolas brasileiras: na qual se acham suppressas todas as estâncias que não devem ser lidas pelos meninos”, indicando a adaptação da obra para o público escolar.

Abílio Cesar Borges, conhecido como Barão de Macaúbas (município da Bahia), criou escolas na Bahia e o famoso Colégio Abílio da Corte no Rio de Janeiro. Esse último inspirou a obra Ateneu de Raul Pompéia.

No prefácio deste Os Lusíadas, Borges relata sua aproximação com o poema ainda jovem por meio de um professor e também que o adotou como livro de leitura “nas aulas primárias do Ginásio Baiano e do Colégio Abílio e como compêndio de analise nas aulas de Gramática Filosófica e Retórica e livro para exercício de declamação.”

A supressão de partes do poema de Camões é assim justificada por Borges: “(...) foi o poeta livre demais no dizer, e até escandaloso (...) descrevendo scenas de requintado erotismo (...)”.

Os cortes, segundo o organizador, tinham o objetivo de adequar o poema as escolas, as famílias, aos jovens, enfim. A rígida moral da época expressa, então, no livro escolar.

A introdução do livro também apresenta observações de Borges sobre o ensino da Língua Portuguesa; sua atuação quando Conselheiro da Instrução do Município da Corte em 1872 e outras propostas para a Educação no período do Império.

O livro em questão é um testemunho da educação de uma época e da atuação de educador consagrado, entre outros pontos. Assim, como fonte de pesquisa, o livro escolar, ao ser analisado dentro de um quadro explicativo, abrange vários aspectos da história da Educação.

Esse, por enquanto, é o livro mais antigo do AHLE. Outros do século 19 se encontram também a disposição dos pesquisadores. Alguns digitalizados.







terça-feira, 29 de maio de 2012

Práticas de Leitura



Na  escola primária de São Paulo, nas primeiras décadas do século 20, livros escolares com textos curtos sobre o universo da criança e livros de literatura infantil foram utilizados  para a prática da leitura.

Naquele momento a recente indústria editorial brasileira buscava no Estado uma fonte de recursos, já que livros de uso escolar eram adquiridos pelo poder público (o que acontece até os dias atuais).  Assim muitos autores pautavam sua produção nessa direção.

Um exemplo de aproximação entre livro escolar e literatura infantil é a publicação Narizinho Arrebitado de Monteiro Lobato, com a recomendação do autor: “para uso nas escolas primárias”. Jogada de marketing?  Publicado em 1921, com a “imprudência editorial” de 50 mil exemplares, o livro foi ofertado para os Grupos Escolares e escolas do Estado de São Paulo. Em uma visita do então Presidente do Estado, Washington Luiz a escolas da capital, surpreendeu-o um livrinho que as crianças carregavam. Era o tal Narizinho Arrebitado. Mandou então que se comprasse e fosse distribuído nas escolas. Com isso a grande tiragem esgotou-se. (1)

Livros de literatura infantil com dizeres “de uso escolar” ou “recomendados como livro de leitura” etc. eram comuns e forma de terem penetração no ambiente escolar e muitas vezes, serem adquiridos pelo Estado.
O AHLE possui, além de cartilhas, livros de primeiras leituras; livros de leitura escolar; de comunicação e expressão; antologias; livros de literatura brasileira e  luso-brasileira. Esses livros  referem-se aos cursos primário e secundário, para usar linguagem mais corrente, já que denominações de graus de ensino mudaram com o tempo por conta das legislações educacionais.

Esses livros, sem dúvida, nos indicam a história do livro didático de Língua Portuguêsa  em todas as suas subdivisões.




Notas:
[1] CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro Lobato Vida e Obra. SP, Cia Ed. Nacional, 1955 p.570/571.



sexta-feira, 27 de abril de 2012

D. Quixote de Cervantes

“D Quixote: Cervantes, Portinari - Drummond.”.  Reedição em 1998 do livro que dá outra feição à obra do escritor espanhol publicada no início do século 17.


Essa publicação, de 1998, foi uma iniciativa do Projeto Portinari com o apoio do Ministério da Cultura e distribuída em Bibliotecas Públicas, Centros Culturais e Universidades.

É um livro que amolda composições poéticas de Drummond com os traços de Portinari, emoldurando a obra prima de Miguel de Cervantes.

Um exemplar encontra-se disponível na Seção de Bibliografia e Documentação da Biblioteca Monteiro Lobato.

Para mais informações sobre Portinari: http://www.portinari.org.br/

O Memorial da America Latina expõe até o dia 20 de maio os painéis “Guerra e Paz”:
http://www.memorial.org.br/



sexta-feira, 2 de março de 2012

Contos de Fadas nos Livros escolares

(1)






Neste ano de 2012 comemoram-se os 200 anos da publicação dos “Contos da Criança e do Lar”, escrito pelos irmãos Grimm, autores de histórias infantis consagradas e livro considerado patrimônio mundial pela UNESCO.
Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859) nasceram na Alemanha e tornaram-se conhecidos ao reunirem narrativas da memória popular de tradição oral, origem de vários de seus contos.
Contos de encantamento ou maravilhosos foram utilizados nas escolas, nos livros de leitura, ao lado das narrações árabes e do folclore brasileiro.



Alguns exemplos dessas histórias estão na série Biblioteca Infantil organizada por educadores e publicada pela Editora Melhoramentos no início do século 20, serie que compõe o acervo do AHLE. (2)



Literatura infantil e livro escolar caminharam juntos nas primeiras produções de livros de leitura para a escola. Eram comuns séries de livros denominados Leitura Recreativa Escolar ou coleções de livros de leitura organizados por educadores e, ainda, professores escreverem livros de leitura para as crianças.



Essa fase antecedeu novos ares preconizados por movimentos de renovação educacional que se consolidaram no país nos anos de 1930, quando a produção de livros didáticos para cada matéria de ensino se intensificou.





Ilustrações:



(1) OLIVEIRA, Alaide Lisboa de. Meu coração. SP, Cia Ed. Nacional, 1963.






(2) Idem p.40.






(3) SANTOS, Theobaldo Miranda. Vamos estudar - 1ª serie primária.RJ, Agir, 1965.