Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


Seja bem-vindo.







quinta-feira, 15 de outubro de 2015

“Notas para um futuro leitor” de Antonio D’Avila



Notas para um futuro leitor: foi com esse título que encontrei um cartãozinho dentro do livro “As modernas directrizes da didactica”, de 1935, do Prof. Antonio d’Avila.[1] Esse livro foi produto da monografia apresentada para o concurso de Metodologia do Ensino Primário, na Escola de Professores da Universidade de São Paulo.
Quase como um desabafo, no tal cartãozinho, o Prof D’Avila declara:
“Escrevi este livro no ano de meu casamento (janeiro de 1935) e trabalhei nele dia e noite, como se vê de suas páginas. Escrever e passar a máquina, levar os originais ao tipógrafo – atrás do Jardim da Luz, rever as provas, corrigi-las – trabalho de Hércules. 200 páginas, como se vê – com enorme soma de consultas. A prova (sobre o concurso) contou de: prova escrita, arquição e aula. Resultado – 1º lugar: Onofre de Arruda Penteado – 6,75. 2º lugar – D’Avila – 6,6. (...) A livre-docência que nos cabia foi-nos negada. Por isso deixei o Instituto de Educação transferindo-me para a Escola Normal Ginásio Ipiranga”.[2]
 
Bem, o livro em questão  nos foi doado já faz um tempo e inserido no ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE, mas somente agora, ao folheá-lo por conta de uma pesquisa, encontrei as “notas” descritas.
Sobre Antonio D’Ávila nós já falamos neste blog com algumas informações para pesquisadores da Educação. Aqui interessa certas “pegadas” encontradas em livros antigos, muito além das análises de conteúdos didáticos. São as ressalvas, observações escritas, notas e declarações encontradas tanto no corpo do livro, quanto soltas, como foi o caso do Prof. D’Avila. Marcas do tempo e também depoimentos que mostram sentimentos, opiniões e reflexões sobre o que se lê e no caso descrito, sobre o livro que se escreveu para um concurso.
Outros livros do Prof. D'Ávila que compõem o AHLE: Pátria Brasileira, Páginas Cívicas, Práticas Escolares, Literatura Infanto Juvenil, Guia do Estudante, O Tesouro da Criança e Alvorada. Os dois últimos voltados para o curso primário e organizados em séries graduadas.

  










[1] Editado na Typ. Ideal Heitor L. Canton, São Paulo. O Prof. D'Avila teve ampla produção de livros didáticos para o curso primário e para a formação de professores.

[2] A Escola Normal era anexa ao Ginásio Ipiranga.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Apontamentos sobre análise de livros escolares antigos

Livros escolares como fonte de pesquisa tem largo alcance. Posso afirmar, pela experiência com a pesquisa nesse material, que desde o formato, a diagramação, a capa, as ilustrações, a grafia, cores, ou seja, feitios materiais dos livros, até a proposta pedagógica, conteúdo, a que público é dedicado,  faixa etária, a metodologia usada etc., são temas que se destacam nas análises desses livros.


Assim, o interesse tanto às especificidades, quanto a ângulos mais amplos estão presentes quando se trata desse material, por serem representativos de aspectos  educativos e socioculturais de um determinado contexto. Por meio de conteúdos, intencionalidades, métodos etc., configuram-se formas de expressão, influências, valores e idéias presentes nos períodos a que se refere o livro ou coleção didática.


Pois esperando contribuir sobre a pesquisa nos livros escolares antigos, que trazem indícios importantes em relação a aspectos da história da educação em nosso país, exponho algumas idéias sobre as possibilidades de análise que oferecem.


A identificação do livro, os conteúdos expostos e a metodologia usada são eixos de análise que devem ser considerados. Deste modo autoria, ano de publicação, edição, tiragem, editora e todas as informações contidas como faixa etária, série escolar a que se destina e outras que se encontram muitas vezes nas páginas iniciais ou finais do livro são elementos que nem sempre se dá a devida atenção. Se for uma reedição, por exemplo, notar se é revisada e buscar dados de outras edições para perceber mudanças na publicação do livro etc. Se o percurso do livro for longo atentar para seu uso por várias gerações e regiões do país, ou seja, sua trajetória e influência no processo de aprendizagem.


Sabemos que livros escolares veiculam o currículo escolar e apresentam saberes organizados. Nesse sentido o que o livro oferece ou omite; a adequação dos conteúdos e a articulação entre eles; idéias e valores presentes; as aspirações e hábitos sociais que veicula traduzem uma visão de mundo. Esses componentes aparecem também nas ilustrações e na forma como as informações se organizam.


Como recurso pedagógico, o livro escolar é um mediador de conteúdos e essa mediação é feita de acordo com métodos de transmissão do conhecimento. Nesse sentido, os sujeitos do processo ensino aprendizagem são levados em consideração? A aquisição do conhecimento se dá com predominante intervenção do professor ou a iniciativa do aluno tem relevância? A adequação à realidade do aluno é fator primordial? Ora essas e outras questões feitas pelo pesquisador podem decifrar as vertentes que sustentam maneiras de expor esses conteúdos. Claro que o professor é fundamental nesse processo e o que acontece em sala de aula o livro didático não mostra, mas é o livro, muitas vezes, o suporte  mais importante na relação entre aluno e professor.

Como exemplo, o livro Contos Infantis em verso e prosa de Adelina Lopes Vieira e Julia Lopes de Almeida[1], teve sua primeira edição em 1891. A edição que o AHLE conserva é de 1927, 17ª ed. Com prólogo da segunda edição, esclarece objetivos, datas, faixa etária adequada, o método usado, entre outras informações. São vários contos singelos, outros exemplares, algumas fábulas, sempre com questões para os alunos responderem no fim do texto. O livro foi aprovado para uso nas escolas primárias pela Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária da Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil em 1891.

Eis algumas poucas informações sobre o livro. E como são as questões colocadas pelo pesquisador que faz de um documento, de um livro ou outro material qualquer fonte de pesquisa, fica aqui uma provocação.


Notas:



[1] VIEIRA, A. L. e ALMEIDA, J. L. Contos Infantis em verso e prosa – adoptados para uso das escolas primárias do Brasil. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1927.