Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


Seja bem-vindo.







sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A História da Educação e as ausências nos livros escolares







Quais são os caminhos que permeiam um tema de pesquisa? Para Eric Hobsbawm[1], historiador inglês, são as indagações do pesquisador o que transforma um material em fonte de pesquisa.  Assim a princípio o pesquisador já construiu algumas questões, fruto das suas incertezas e vontade de investigar. Para tanto conhecimentos anteriores, necessidades acadêmicas e profissionais, sem esquecermos uma pitada de curiosidade, formam o arcabouço que irá direcionar o pesquisador. Direção essa sempre em mudança. Afinal o conhecimento é um processo em construção.


 

O que vamos tratar aqui é de questões postas que não são encontradas, mesmo que a priori o pesquisador já tenha pistas do que não vai achar. Nesse sentido o meu contato com estudantes que buscam nos livros escolares do Acervo Histórico do Livro Escolar temas para seus trabalhos e não acham, resultou nessas considerações sobre as lacunas que os livros escolares apresentam.
Alguns exemplos: informações sobre métodos contraceptivos nos livros de biologia dos anos de 1960 e 1970; reprodução e hormônios nesses mesmos livros; o protagonismo dos afros descendentes no processo de libertação dos escravos; o anarquismo nos livros de história; a figura da criança negra nas capas dos livros; a história da África e por aí vai.
Nesses tempos de controvérsias sobre as mudanças do currículo dos livros de história e de outras matérias de ensino, é bom retomarmos essas questões como forma de trazermos a tona as mudanças e permanências de um tema que não é novo: o que devemos ensinar nas escolas?
Como ilustração vale a pena refletir para que serve a História da Educação. Para avaliarmos a atualidade; para retomarmos em que contextos algumas mudanças aconteceram; para analisarmos criticamente interesses envolvidos e principalmente para pensarmos a escola e a educação como instâncias de situações reais, partes de determinada conjuntura
Tudo isso se aprende com História e muito mais.
O AHLE mantém inúmeros livros de História da Educação usados nos antigos cursos de formação de professores: a Escola Normal ou Curso de Magistério, entre duas centenas de livros indicados para esse grau de ensino.





[1] Eric Hobsbawm. Sobre a História. Cia das Letras, São Paulo,  1998.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

“Notas para um futuro leitor” de Antonio D’Avila



Notas para um futuro leitor: foi com esse título que encontrei um cartãozinho dentro do livro “As modernas directrizes da didactica”, de 1935, do Prof. Antonio d’Avila.[1] Esse livro foi produto da monografia apresentada para o concurso de Metodologia do Ensino Primário, na Escola de Professores da Universidade de São Paulo.
Quase como um desabafo, no tal cartãozinho, o Prof D’Avila declara:
“Escrevi este livro no ano de meu casamento (janeiro de 1935) e trabalhei nele dia e noite, como se vê de suas páginas. Escrever e passar a máquina, levar os originais ao tipógrafo – atrás do Jardim da Luz, rever as provas, corrigi-las – trabalho de Hércules. 200 páginas, como se vê – com enorme soma de consultas. A prova (sobre o concurso) contou de: prova escrita, arquição e aula. Resultado – 1º lugar: Onofre de Arruda Penteado – 6,75. 2º lugar – D’Avila – 6,6. (...) A livre-docência que nos cabia foi-nos negada. Por isso deixei o Instituto de Educação transferindo-me para a Escola Normal Ginásio Ipiranga”.[2]
 
Bem, o livro em questão  nos foi doado já faz um tempo e inserido no ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE, mas somente agora, ao folheá-lo por conta de uma pesquisa, encontrei as “notas” descritas.
Sobre Antonio D’Ávila nós já falamos neste blog com algumas informações para pesquisadores da Educação. Aqui interessa certas “pegadas” encontradas em livros antigos, muito além das análises de conteúdos didáticos. São as ressalvas, observações escritas, notas e declarações encontradas tanto no corpo do livro, quanto soltas, como foi o caso do Prof. D’Avila. Marcas do tempo e também depoimentos que mostram sentimentos, opiniões e reflexões sobre o que se lê e no caso descrito, sobre o livro que se escreveu para um concurso.
Outros livros do Prof. D'Ávila que compõem o AHLE: Pátria Brasileira, Páginas Cívicas, Práticas Escolares, Literatura Infanto Juvenil, Guia do Estudante, O Tesouro da Criança e Alvorada. Os dois últimos voltados para o curso primário e organizados em séries graduadas.

  










[1] Editado na Typ. Ideal Heitor L. Canton, São Paulo. O Prof. D'Avila teve ampla produção de livros didáticos para o curso primário e para a formação de professores.

[2] A Escola Normal era anexa ao Ginásio Ipiranga.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Apontamentos sobre análise de livros escolares antigos

Livros escolares como fonte de pesquisa tem largo alcance. Posso afirmar, pela experiência com a pesquisa nesse material, que desde o formato, a diagramação, a capa, as ilustrações, a grafia, cores, ou seja, feitios materiais dos livros, até a proposta pedagógica, conteúdo, a que público é dedicado,  faixa etária, a metodologia usada etc., são temas que se destacam nas análises desses livros.


Assim, o interesse tanto às especificidades, quanto a ângulos mais amplos estão presentes quando se trata desse material, por serem representativos de aspectos  educativos e socioculturais de um determinado contexto. Por meio de conteúdos, intencionalidades, métodos etc., configuram-se formas de expressão, influências, valores e idéias presentes nos períodos a que se refere o livro ou coleção didática.


Pois esperando contribuir sobre a pesquisa nos livros escolares antigos, que trazem indícios importantes em relação a aspectos da história da educação em nosso país, exponho algumas idéias sobre as possibilidades de análise que oferecem.


A identificação do livro, os conteúdos expostos e a metodologia usada são eixos de análise que devem ser considerados. Deste modo autoria, ano de publicação, edição, tiragem, editora e todas as informações contidas como faixa etária, série escolar a que se destina e outras que se encontram muitas vezes nas páginas iniciais ou finais do livro são elementos que nem sempre se dá a devida atenção. Se for uma reedição, por exemplo, notar se é revisada e buscar dados de outras edições para perceber mudanças na publicação do livro etc. Se o percurso do livro for longo atentar para seu uso por várias gerações e regiões do país, ou seja, sua trajetória e influência no processo de aprendizagem.


Sabemos que livros escolares veiculam o currículo escolar e apresentam saberes organizados. Nesse sentido o que o livro oferece ou omite; a adequação dos conteúdos e a articulação entre eles; idéias e valores presentes; as aspirações e hábitos sociais que veicula traduzem uma visão de mundo. Esses componentes aparecem também nas ilustrações e na forma como as informações se organizam.


Como recurso pedagógico, o livro escolar é um mediador de conteúdos e essa mediação é feita de acordo com métodos de transmissão do conhecimento. Nesse sentido, os sujeitos do processo ensino aprendizagem são levados em consideração? A aquisição do conhecimento se dá com predominante intervenção do professor ou a iniciativa do aluno tem relevância? A adequação à realidade do aluno é fator primordial? Ora essas e outras questões feitas pelo pesquisador podem decifrar as vertentes que sustentam maneiras de expor esses conteúdos. Claro que o professor é fundamental nesse processo e o que acontece em sala de aula o livro didático não mostra, mas é o livro, muitas vezes, o suporte  mais importante na relação entre aluno e professor.

Como exemplo, o livro Contos Infantis em verso e prosa de Adelina Lopes Vieira e Julia Lopes de Almeida[1], teve sua primeira edição em 1891. A edição que o AHLE conserva é de 1927, 17ª ed. Com prólogo da segunda edição, esclarece objetivos, datas, faixa etária adequada, o método usado, entre outras informações. São vários contos singelos, outros exemplares, algumas fábulas, sempre com questões para os alunos responderem no fim do texto. O livro foi aprovado para uso nas escolas primárias pela Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária da Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil em 1891.

Eis algumas poucas informações sobre o livro. E como são as questões colocadas pelo pesquisador que faz de um documento, de um livro ou outro material qualquer fonte de pesquisa, fica aqui uma provocação.


Notas:



[1] VIEIRA, A. L. e ALMEIDA, J. L. Contos Infantis em verso e prosa – adoptados para uso das escolas primárias do Brasil. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1927.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

ENCICLOPÉDIAS




“A Enciclopédia e o mundo esclarecido em verbetes” foi título de matéria do caderno Ilustríssima, do jornal Folha de São Paulo do último dia 16 de agosto de 2015.
O tema foi o lançamento em cinco volumes, no Brasil, da tradução da Enciclopédia iluminista de Diderot e D’Alembert, publicada originalmente no século XVIII. Na época um trabalho monumental com o objetivo de apresentar “um quadro geral dos esforços do espírito humano de todos os tipos e em todos os séculos”, segundo palavras de Diderot, que reproduzo aqui a partir da matéria acima citada e assinada por Úrsula Passos.
Segundo o dicionário Houaiss, enciclopédia é o “conjunto de todos os conhecimentos humanos ou apenas um domínio deles” expostos de maneira ordenada, seguindo um critério de apresentação alfabética ou temática.
Na iniciativa de se produzir uma enciclopédia está, então,  a aspiração de difundir o conhecimento. Não foi por menos que Diderot, D’Alembert e sua Enciclopédia sofreram perseguições e censuras, até por conta dos autores manifestarem idéias sobre determinadas questões.
Nas Bibliotecas as Enciclopédias são consideradas, junto aos Dicionários e aos Atlas, livros de referência que auxiliam as pesquisas e devem ser consultados no local.
Material que se disseminou a partir do século XX, as enciclopédias compuseram  estantes de várias famílias. Barsa, Britannica e o Tesouro da Juventude entre outras, foram coleções muito difundidas por aqui.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE mantém inúmeras enciclopédias usadas para a pesquisa, tanto as mais gerais, como Enciclopédia da Juventude, quanto as específicas, de determinada disciplina: Enciclopédia de Moral e Civismo, de Geografia, de História etc.





quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Língua Portuguesa







“Se a frase é a mais perfeita expressão de um idioma, a palavra é o fundamento da frase” (1) Quem, de uma forma ou de outra, já não viu essa afirmação em uma aula ou na leitura de um livro de Língua Portuguesa?
Pois é sobre essa matéria que ocuparemos esse breve espaço do blog.
Dentre os cinco mil livros de todas as matérias que compõem o ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE, a maioria é de Língua Portuguesa, em suas várias áreas: Gramática, Redação e Literatura. Claro que  não estão dissociadas, mas dependendo do grau de ensino e da organização curricular, são ministradas separadamente.
Assim, de uma forma simplista, afirmamos que a Gramática sistematiza as regras do idioma falado e escrito; a Redação estimula a produção escrita da língua em suas várias modalidades, como narração, descrição etc., e a Literatura é o conjunto de determinada criação artística em prosa ou verso.
Agora, quando se pretende o estudo desses conceitos, impõe-se a observação tanto em seus aspectos teóricos, quanto históricos. Com isso, um acervo como o AHLE representa a possibilidade de contribuir para a pesquisa nesse sentido, pois resguarda um material que abrange 70 anos consecutivos: das últimas décadas do século XIX aos anos de 1970, com algumas centenas de livros sobre a matéria.

Notas
(1) Bueno, Silveira. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. São Paulo, Saraiva, 1968, p. 15.



quarta-feira, 17 de junho de 2015

Mário de Andrade, a música e livros escolares


Mário de Andrade (1893-1945) é homenageado neste ano por conta dos setenta anos de sua morte. (1) Ora, a morte não se festeja, mas é sempre oportuno reiterar a importância e a contribuição de um estudioso como Mário. E mais, setenta anos da morte significa também que  sua obra entra para o domínio público.
Poeta, musicólogo, contista, romancista, ensaísta, Mário de Andrade perseguiu a idéia de um projeto brasileiro de nacionalidade.
E qual é a relação entre o ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE e Mário de Andrade? Primeiro, a Biblioteca Monteiro Lobato que sedia o AHLE foi, na sua origem, em 1936, um projeto do Departamento de Cultura, então dirigido por Mário de Andrade. Nos primeiros dois anos de funcionamento, a Biblioteca contou com a proximidade e o interesse de Mário pelas atividades proporcionadas às crianças.(2)
Segundo, a maioria dos livros escolares que compõe o AHLE pertenceu a essa Biblioteca, que propunha a permanência das crianças e jovens no seu espaço com vários projetos,  fornecendo também material para a pesquisa escolar.  
Mas o que eu pretendo mostrar é uma terceira possibilidade de proximidade entre o AHLE e Mário de Andrade. E isso, pela música. Ora, Mário foi um estudioso e pesquisador do folclore. Promoveu a  Missão de Pesquisas Folclóricas, publicou Ensaios sobre a Música Brasileira e se interessava  pela música como parte da cultura brasileira. Chegou a compor "Viola Quebrada" ou "Maroca", harmonizada por Villa Lobos em 1926.
Pois dentre os livros escolares resguardados pelo AHLE, temos alguns títulos de Canto Orfeônico, matéria de ensino obrigatória nas escolas,   implantada em 1931, como projeto de educação musical de Heitor Villa-Lobos (1887-1959).
A relação entre Mário de Andrade e Villa-Lobos é conhecida. Além de serem protagonistas da Semana de Arte de 1922, tiveram interesses comuns quanto à música.
O AHLE  mantém algumas dezenas de livros escolares de Canto Orfeônico, de Cantos Cívicos e de música nas escolas.

Notas:

(1) Homenageado da FLIP/2015.
Exposição permanente: “A morada do Coração Perdido” na Casa Mário de Andrade. www.oficinasculturais.org.br
(2) Fonte: Álbuns de correspondência do Acervo Memória da Biblioteca. (Biblioteca Monteiro Lobato). 

Ref. Bibliográficas:

Alessandra C. Lisboa e Dorotéa M. Kerr. Villa-Lobos e o canto orfeônico: análise de discurso nas canções e cantos cívicos. ANPPOM – Décimo Quinto Congresso/2005. Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista.
Wilson Lemos Jr. O ensino do Canto Orfeônico nas escolas secundárias brasileiras. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.42, p. 279-295, jun2011.


sexta-feira, 15 de maio de 2015

MEMÓRIA ESCOLAR




Dentre os livros procurados pelo público em geral e não para pesquisas específicas, as cartilhas são os  mais desejados. Mesmo neste Blog, quando verificamos quais os textos visitados, Cartilhas e Lembranças, postado  em 2010, é o que tem maior número de acessos.




Por que isso acontece? Que atração as cartilhas exercem?

Sem dúvida a Cartilha é o primeiro livro escolar que a maioria das crianças recebe, às vezes o único. E mais, usado diariamente fica muito próximo, familiar, bem como as primeiras letras. Estas, associadas quase sempre com personagens ou historinhas do mundo infantil, formam imagens que permanecem, juntamente com algumas ilustrações lembradas ainda no mundo adulto.

É bastante comum pessoas procurarem no ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE as cartilhas em que se alfabetizaram, se não pelo título muitas vezes esquecido, pela ilustração de capa ou alguma lição que ficou na lembrança.

Sabemos que a memória é seletiva, idealizada, mas é tocante ver adultos se emocionarem até as lágrimas ao folhearem as cartilhas de seus primeiros tempos de escola.

Eis aí um fator que nos faz pensar sobre a importância, na formação de todos nós, desses livrinhos e dos primeiros anos escolares.

Porquanto serem muito manuseados e quase sempre descartados, Cartilhas, principalmente as mais antigas, são raridades que acervos como o AHLE resguardam e disponibilizam para o público.




terça-feira, 5 de maio de 2015

Livros Multidisciplinares para o Curso Primário




Multidisciplinaridade é termo usado para definir  uma grade curricular e suas várias disciplinas, nem sempre interligadas. Cada campo de conhecimento tem suas especificidades e a conexão entre esses campos pode ser feita de acordo com a didática e o preparo do professor. Assim pensa-se na interdisciplinaridade como forma de intercâmbio entre as matérias de ensino.


Nessa linha, muitas vezes um tema é eleito para ser abordado pelas áreas do conhecimento. Há muitos trabalhos acadêmicos que tratam a interdisciplinaridade como adequada, apesar de não haver consenso entre os educadores.


Essa pequena introdução se faz necessária porque o que apresento aqui são livros escolares, a maioria das décadas de 1950 e 1960, nomeados Livros Multidisciplinares.


O que é isso? É denominação no ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE para livros dos cursos elementares que trazem, num mesmo volume,  várias disciplinas.


Foi comum, até as mudanças na legislação que rege a Educação no país, nos anos 1970, livros do antigo curso primário (atual primeiro ciclo do ensino fundamental) contendo,  por exemplo, Gramática, História, Geografia e Noções de Higiene.


O AHLE tem em seu Acervo inúmeros desses livros, ao lado de Cartilhas, Primeiras Leituras e os livros de série de  leitura graduada, com uma cartilha e quatro livros para as séries do ensino primário e muitas vezes um quinto, de admissão (preparatório ao ingresso no curso ginasial, atual segundo ciclo do ensino fundamental).


sexta-feira, 20 de março de 2015

Histórias Infantis como fonte de pesquisa para a Educação


Em 2013 organizei a reedição de um livro já comentado aqui, “Histórias Maravilhosas”[i] de Osório Duque Estrada  (1870-1927), publicado originalmente na década de 1920. Um livro que segundo palavras do autor, continha “novos e velhos contos da Carochinha, colecionados, redigidos, adaptados e postos em linguagem acessível às inteligências infantis.”

Reeditar um livro de contos para crianças escrito no início do século XX trouxe algumas dúvidas. Um livro de contos, tão antigo, será que não envelheceu? Os contos serão ainda adequados?

Bem, a leitura de Histórias Maravilhosas mostrou que nem tudo envelhece, principalmente livros e histórias infantis. Quem não se lembra ou já não ouviu falar de antigas histórias contadas ao pé da cama ou em roda de crianças? Ou ainda, dos contos nos livros de leitura usados na escola?

Além do mais as novas gerações têm outros meios de assimilar certos conteúdos inspiradores e quase consagrados da literatura infantil. Mas, sobretudo o valor histórico de uma obra como esta sem dúvida já justifica a sua publicação.

Duque Estrada adaptou e/ou resumiu certas histórias populares, tais como contos do folclore brasileiro, alguns tirados de Silvio Romero[ii] e outros recolhidos por Couto Magalhães[iii]; contos do Livro das 1001 Noites; lendas africanas; lendas indígenas, além de contos estrangeiros.

Essa publicação preencheu, então, um espaço pouco explorado da literatura infantil na época, em que a maioria das edições era de traduções ou adaptações de obras, principalmente europeias e geralmente com linguagem inadequada às crianças.

Para esta reedição foram excluídos vários contos do “Livro das 1001 Noites”, que na sua origem não foi escrito para as crianças e continham exemplos modelares de conduta envolvidos pelo mundo adulto. Escolhemos dentre esses contos os reconhecidos como infantis: “Ali Baba” e “Aladino”, entre outros que permaneceram.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE  mantém inúmeros livros de contos,  poesias  e  histórias infantis de várias épocas e usados na escola com objetivo didático e também de formação moral. Eram comuns séries de livros denominados Leitura Recreativa Escolar ou coleções de livros de leitura organizados por educadores e, ainda, professores escreverem livros de leitura para as crianças.

Um material de pesquisa que recupera várias facetas da educação e da cultura do país.

Notas:


[i] O AHLE tem os originais desta publicação. O livro atual, de 2013, foi editado pela Escrituras.
[ii] Contos Populares do Brasil de Silvio Romero (1851-1914), lançado em 1885 e reeditado pela Editora Landy, em 2000
[iii] José Vieira Couto de Magalhães (1837-1898) foi escritor mineiro e folclorista.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O Jornal "A Voz da Infância" (1936-1950) - Educação e Cultura na Modernidade Paulistana


 
A publicação de um livro sobre um jornal infanto-juvenil da década de 1930 pode não parecer adequado em um Blog que se propõe a divulgar e trazer informações a respeito de um Acervo de livros escolares antigos. Mas se pensarmos que esse jornal foi criado e editado na Biblioteca Infantil Municipal de São Paulo, atual Biblioteca Monteiro Lobato, a mesma que deu origem ao AHLE, veremos uma confluência entre o livro e o Acervo.

Ambos tiveram como princípio a Biblioteca que sediou livros para trabalhos escolares das crianças e assim proporcionou a organização do Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE,  hoje procurado como fonte de pesquisa e  também abrigou um projeto de elaboração de um jornal infanto juvenil com o objetivo de promover a Biblioteca como equipamento de educação e cultura e garantir a permanência das crianças em seu espaço.

O livro que dá título a este texto é também, junto com o AHLE, fruto da busca de novas fontes, empreitada que expõe vestígios e testemunhos do passado. Espera-se com isso chamar a atenção  para o resguardo e disponibilização de fontes de pesquisa, trabalho sempre em construção, apesar dos avanços proporcionados pela tecnologia. Assim conta-se colaborar para a escrita da história e  o intercâmbio com outras instituições.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Antonio Firmino de Proença


Antigamente era mais comum que professores publicassem livros escolares? Parece que sim, ao menos é o que demonstra o ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE. São vários os educadores que se tornaram autores de livros didáticos e paradidáticos ou mesmo organizadores de coletâneas e coleções de uso escolar.

Um desses foi Antonio Firmino de Proença (1880-1946) professor paulista formado na Escola Normal de São Paulo (conhecida como Escola da Praça ou Escola Normal  Caetano de Campos).

Lecionou em várias escolas públicas do Estado de São Paulo e publicou, entre outros, uma coleção de livros escolares denominadas “séries graduadas”, compostas por uma cartilha e quatro ou cinco livros voltados para as séries do antigo curso primário (atual 1º ciclo do ensino fundamental).

NO AHLE encontram-se o 1º, 2º e 3º Livros de Leitura da década de 1940 e o livro Leitura para principiantes de 1945, já na 63º edição.

Alguns estudos sobre Proença ilustram a sua trajetória como educador e autor de livros escolares. Entre outros Razzini, Marcia (org.) Antonio Firmino de Proença: professor, formador, autor. Ed. Porto de Ideias, 2010 e também Gazoli, Monalisa. Bibliografia de e sobre Antonio Firmino de Proença: um instrumento de pesquisa. Disponível em http://www.sbhe.org.br

Lembramos também que Antonio Firmino de Proença dá nome a antiga e consagrada escola pública no bairro da Moóca.

O AHLE tem em seu acervo outros livros didáticos escritos e organizados por professores que serão divulgados em breves textos como este.