Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ensino técnico

GERENCER, Ravel e Roberto. Educação para o trabalho 1 (as atividades produtivas do homem). SP, Atlas, 1979. Livro destinado ao 1º grau, em “Educação para o Trabalho”, segundo as diretrizes do Guia Curricular .

O ensino técnico entre nós remonta às primeiras décadas do século 20. A Reforma Francisco Campos em 1931[1] organizou o ensino comercial no nível médio, com um primeiro ciclo geral de três anos e o segundo ciclo assim dividido: curso técnico de secretário, 1 ano; de guarda livros, 2 anos; de administrador-vendedor, 2 anos; de atuário, 3 anos e de perito contador, 3 anos. Havia também o curso auxiliar de comercio com duração de dois anos, sem necessidade do primeiro ciclo.
As Leis Orgânicas de Ensino de 1942 [2] reestruturaram o ensino técnico-profissional: o ensino industrial, o comercial e o agrícola. Um aspecto dessa lei foi a obrigatoriedade dos empregadores oferecerem formação profissional e acontratar aprendizes. É desse período a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI.
KAPP, Ademar. Técnicas Comerciais - ensino de 1º grau. SP, Ed. do Brasil, 1973.
Para a matéria "Iniciação Comercial".



A Lei 5692 de 1971, durante a ditadura militar, incentivou a formação profissional de nível médio. Quanto ao ensino do 1º grau, por exemplo, a grade curricular previu a “sondagem vocacional e a iniciação ao trabalho”. Quanto ao 2º grau, a grade curricular foi estruturada para a habilitação profissional.[3] Um dos fundamentos dessa reforma de ensino quanto à formação profissional foi proporcionar habilitação de nível médio, não incentivando o ingresso aos cursos superiores.
Desde a introdução na grade curricular de matérias voltadas à formação para o trabalho, até o incentivo à criação de cursos técnicos de segundo grau como formação terminal, esses cursos se inseriram na necessidade de formação profissional técnica qualificada, de nível médio, para atender a demanda do mercado.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE mantém mais ou menos setenta livros de ensino técnico, basicamente dos Cursos de Comércio e de Contabilidade e também de matérias curriculares de 1º grau para a formação do futuro trabalhador.
Além da trajetória desses cursos, os livros trazem ilustrações de antigas (ou não tão antigas assim) máquinas auxiliares no trabalho, permitindo visualizarmos as mudanças tecnológicas ocorridas.
Essas mudanças alteraram a forma do trabalho, permitiram a substituição da mão de obra pela máquina e influenciaram toda a rede de relações sociais.


Tabela de destreza em máquina de escrever usada em cursos de datilografia.

Notas
[1]Francisco Campos foi Ministro da Educação e da Saúde entre 1930 e 1934.
[2]As Leis Orgânicas de Ensino foram decretadas entre 1940 e 1946.
[3]
As informações básicas sobre as Reformas de Ensino têm como referência ROMANELLI, Otaiza. História da Educação no Brasil. RJ, Vozes, 1988.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Livros de civilidade

Manuais de boas maneiras, regras de compostura e de decoro. Esse gênero de literatura da civilidade, antigo instrumento do “bem viver”, se disseminou entre os séculos 18 e 19, com a crescente complexidade das relações em sociedade. O processo de industrialização, a decorrente urbanização e o desenvolvimento das ciências trouxeram novos hábitos e novas demandas no conviver social.
Um dos mais conhecidos livros sobre civilidade voltado às crianças e referência para tantos outros que o sucederam foi De civilitate morum puerilium. Traduzido do francês como A civilidade pueril, este livro escrito por Erasmo,[1] em 1530, trata do vestir, das refeições, do dormir etc.,[2]
Os livros de civilidade são considerados literatura pedagógica ou ainda livros escolares, porque foram usados nas escolas como livros de leitura.
Entre nós, durante o Império, circularam livros de civilidade, influência da cultura francesa.[3] Esses livros, no fim do século 19 compuseram o projeto civilizatório da República e alguns fizeram parte das aulas sobre civismo ou sobre comportamento em colégios religiosos.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE mantém alguns livros de comportamento, de educação para o lar, de boa maneiras etc., classificados como paradidáticos.
Destaco alguns livros de civilidade voltados às crianças:






Polidez Infantil.[4] Livro da “boa educação”, da “distinção das maneiras”, que segundo o autor é o que “nos torna dignos de ocupar nosso lugar na sociedade”.






ABC de Boas Maneiras.[5] –20 lições de boas maneiras para as crianças, com vários exemplos. Na página 83, lê-se: (para os meninos) “Não ponha as mãos nos bolsos das calças. Quando não souber o que fazer com as mãos, cruze-as às costas, como sempre faz o príncipe Carlos da Inglaterra”.





Compêndio de civilidade para uso das famílias e colégios.[6] Os autores são os editores, de acordo o prefácio. Esse livro tem conotação religiosa mas trata também das boas maneira e preceitos de comportamento para as crianças na sua vida social, como “sobre o procedimento à mesa” ou “procedimento na sala de estudo”. O AHLE tem vários livros sobre o tema voltados principalmente às mães, às mulheres e às crianças. Esses últimos na forma de livros de leitura

Uma referência sobre o processo civilizatório é a obra do sociólogo alemão Norbert Elias.[7]

Notas:
[1] Erasmo de Roterdã (1469-1536) tem várias obras sobre Educação.
[2] ERASMO. A civilidade Pueril. Lisboa, Estampa, 1978.
[3] Verificar: SENA, Fabiana. A tradição da civilidade nos livros de leitura no Império e na Primeira República. Tese de doutorado, UFPB, 2008.
[4] YANTOK, Max. Coleção Saber é Poder. Rio de Janeiro, editora J. R. de Oliveira & C. , sem data.
[5] Conselhos do Tio Marcelo, SP, Cia Ed. Nacional, 1962. Tio Marcelo é pseudônimo de Marcelino de Carvalho, conhecido autor paulistano de livros de etiqueta dos anos de 1960.
[6] São Paulo, Livraria editora Salesiana Ltda, 1962, na 16ª edição.

[7] Norbert Elias (1897-1990) publicou em 1936 "O processo Civilizador", obra notável que trata da civilização dos costumes.