Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


Seja bem-vindo.







sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Série graduada "Brasília"

Capa do 4º livro de leitura para o 4º ano primário, 8ª ed. 1965.




As coleções ou séries graduadas, geralmente com cinco livros, foram publicadas até a década de 1970. Essas coleções continham uma cartilha e quatro livros de leitura referentes as quatro séries do curso primário, curso extinto com as mudanças na organização da Educação durante a ditadura militar.[1]
Destaco a coleção “Brasília” de Daisy Bréscia, editada em 1960 pela Livraria Francisco Alves, com inúmeras edições posteriores. O nome “Brasília” refere-se a recém inaugurada nova capital do Brasil em abril de 1960. Máximo de Moura Santos, prefaciador do livro indica que a autora homenageia, assim, “o maior acontecimento realizado no país, desde a proclamação da independência”, comentário que testemunha o entusiasmo que Brasília causou. A capa do 4º livro é de Milton Bréscia e as ilustrações de Italo Cencini.

Segundo Bréscia, a cartilha parte da palavra para decompô-la em sílabas, concepção do método analítico de alfabetização. No entanto indica como analítico-sintético o utilizado em sua cartilha, prática comum na multiplicidade de métodos aplicados no processo de aquisição da leitura e da escrita.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR mantém várias coleções graduadas e inúmeras cartilhas, algumas já apresentadas neste Blog.
Esses livros são procurados principalmente por pesquisadores que estudam a história do ensino da escrita e da leitura na fase inicial de escolarização, entre outros estudos, mas também por um público que busca sua história escolar.
Sem dúvida uma das vocações deste Acervo é provocar lembranças. Nesse sentido cumpre a tarefa de resguardar muitas vezes fragmentos da história pessoal de várias gerações.
[2]


[1] Lei n. 5692 de 1971 que fixou as diretrizes para o ensino de 1º e 2º graus, extinguindo a antiga organização escolar em cursos primário, secundário e médio.

[2] 1ª lição do livro n. 4.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Serie “Biblioteca Infantil”



A série “Biblioteca Infantil” da Editora Melhoramentos serviu como leitura para as crianças do curso primário. O primeiro volume, O Patinho Feio, lançado em 31 de outubro de 1915 foi adaptado por Arnaldo de Oliveira Barreto. Com 100 títulos essa série foi publicada até 1958.
Segundo Arroyo, citado por Donato (1990, p. 90) o aspecto gráfico, formato, ilustrações a cores e capa dura atraíram os pequenos leitores. A serie tem adaptações de títulos consagrados da literatura infantil, por exemplo, O Gato de Botas, o Soldadinho de Chumbo; títulos da tradição brasileira, segundo o autor Renato Sêneca Fleury, tais como Os vasos de Ouro, As Rosas do Dragão; histórias do folclore de vários países, como Flor Encarnada, do folclore africano ou versões livres, O Sol, do Cônego Schmid, entre outros.

Essa serie foi orientada ou organizada (é assim que aparece nos livros) em diferentes momentos pelos professores Lourenço Filho e Arnaldo de Oliveira Barreto, contando com vários autores.
Não são livros escolares, mas podemos afirmar “de uso escolar” para crianças já alfabetizadas. A utilização de livros de literatura infantil como leitura na escola foi concomitante às idéias preconizadas pelo movimento da “Escola Nova”.

Uma tese de doutorado na área da Semiótica aborda essa série: A trajetória da ilustração do livro brasileiro a luz da semiótica discursiva, de Ana Lucia Brandão de Oliveira. (PUCSP, 2002).
Outro trabalho é Leitura escolar em São Paulo na Primeira República: as Bibliotecas Infantis, de Marcia de Paula Gregorio Razzini, PUCSP.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE mantém todos os títulos da série “Biblioteca Infantil” e outros livros de leitura de uso escolar.



Referências Bibliográficas:

ARROYO, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira, SP, Melhoramentos, 1988. In: DONATO, Hernani. 100 anos da Melhoramentos. SP, Melhoramentos, 1990.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Arte e Educação - Desenho

Educação Artística como disciplina de ensino remonta à década de 1930 por influência de novos paradigmas para a Educação. Desenho e música, por exemplo, foram incluídos na grade escolar do 1º ano do ensino secundário, na Reforma da Educação de 1933.[1]
Trabalhos manuais, canto, desenho e teatro fizeram parte da escola e as práticas diferenciavam alunas e alunos: aulas femininas voltadas para o lar e as masculinas, para atividades mais profissionalizantes.
Muitas dessas expressões artísticas se mantêm. Atualmente a matéria de ensino “Educação Artística” tem o objetivo de aproximar os alunos de todas as artes: artes cênicas (teatro e dança), artes plásticas e música compõem os programas escolares.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE tem vários livros escolares que abordam as artes na Educação. Vamos tratar, primeiramente, das várias formas de aplicação do Desenho na escola.



SILVA, A. Desenho geométrico. SP, Ed. Irradiante, 1971.
O desenho geométrico na escola primária e secundária e o desenho pedagógico foram matérias incluídas pela Reforma Capanema,[2] durante o Estado Novo. Segundo Barbosa (2007) a forma como essas matérias foram ministradas e impostas criou o primeiro entrave ao desenvolvimento da arte/edu­cação e solidificou alguns procedimentos anti libertários já ensaiados na educação brasileira. Foi o início da pedagogização da arte na escola.

No programa oficial da disciplina "Desenho" do Primeiro Ano Colegial de 1959 lê-se: desenho geométrico e projetivo; desenho decorativo e desenho do natural.
Desenho Geométrico complementava o ensino da geometria por ser um aliado na compreensão de seus conceitos. Atualmente faz parte do ensino da Matemática.

PENTEADO, J. A. Manual de desenho pedagógico. SP, Cia. Ed. Nac., 1958.

Por outro lado, Desenho Pedagógico, voltado para as Escolas Normais tinha como objetivo tratar de diretrizes metodológicas para o ensino do desenho à criança e também ensinar a futura normalista a representar graficamente suas aulas.

Com a Reforma Educacional de 1971[3], Educação Artística se tornou disciplina obrigatória nos currículos de 1º e 2º graus. Ainda segundo Barbosa (2007) nesse período, no que diz respeito ao ensino da Arte, cursos universitários de dois anos, foram criados para preparar professores aligeirados que ensinassem todas as Artes ao mesmo tempo, tornando a Arte na escola uma ineficiência a mais no currículo.
VIEIRA, I. e outros. Educação Artística. B. Horizonte, Livraria Lê Ed., 1977. Referências Bibliográficas

BARBOSA, Ana Mae. Desenho e Arte: histórias de seu ensino. Design, Arte e Tecnologia 3. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2007.
Notas
[1] Reforma Francisco Campos de 1933.

[2] Leis Orgânicas de Ensino de 1942

[3] Reforma de Ensino 5692/1971.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ensino técnico

GERENCER, Ravel e Roberto. Educação para o trabalho 1 (as atividades produtivas do homem). SP, Atlas, 1979. Livro destinado ao 1º grau, em “Educação para o Trabalho”, segundo as diretrizes do Guia Curricular .

O ensino técnico entre nós remonta às primeiras décadas do século 20. A Reforma Francisco Campos em 1931[1] organizou o ensino comercial no nível médio, com um primeiro ciclo geral de três anos e o segundo ciclo assim dividido: curso técnico de secretário, 1 ano; de guarda livros, 2 anos; de administrador-vendedor, 2 anos; de atuário, 3 anos e de perito contador, 3 anos. Havia também o curso auxiliar de comercio com duração de dois anos, sem necessidade do primeiro ciclo.
As Leis Orgânicas de Ensino de 1942 [2] reestruturaram o ensino técnico-profissional: o ensino industrial, o comercial e o agrícola. Um aspecto dessa lei foi a obrigatoriedade dos empregadores oferecerem formação profissional e acontratar aprendizes. É desse período a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI.
KAPP, Ademar. Técnicas Comerciais - ensino de 1º grau. SP, Ed. do Brasil, 1973.
Para a matéria "Iniciação Comercial".



A Lei 5692 de 1971, durante a ditadura militar, incentivou a formação profissional de nível médio. Quanto ao ensino do 1º grau, por exemplo, a grade curricular previu a “sondagem vocacional e a iniciação ao trabalho”. Quanto ao 2º grau, a grade curricular foi estruturada para a habilitação profissional.[3] Um dos fundamentos dessa reforma de ensino quanto à formação profissional foi proporcionar habilitação de nível médio, não incentivando o ingresso aos cursos superiores.
Desde a introdução na grade curricular de matérias voltadas à formação para o trabalho, até o incentivo à criação de cursos técnicos de segundo grau como formação terminal, esses cursos se inseriram na necessidade de formação profissional técnica qualificada, de nível médio, para atender a demanda do mercado.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE mantém mais ou menos setenta livros de ensino técnico, basicamente dos Cursos de Comércio e de Contabilidade e também de matérias curriculares de 1º grau para a formação do futuro trabalhador.
Além da trajetória desses cursos, os livros trazem ilustrações de antigas (ou não tão antigas assim) máquinas auxiliares no trabalho, permitindo visualizarmos as mudanças tecnológicas ocorridas.
Essas mudanças alteraram a forma do trabalho, permitiram a substituição da mão de obra pela máquina e influenciaram toda a rede de relações sociais.


Tabela de destreza em máquina de escrever usada em cursos de datilografia.

Notas
[1]Francisco Campos foi Ministro da Educação e da Saúde entre 1930 e 1934.
[2]As Leis Orgânicas de Ensino foram decretadas entre 1940 e 1946.
[3]
As informações básicas sobre as Reformas de Ensino têm como referência ROMANELLI, Otaiza. História da Educação no Brasil. RJ, Vozes, 1988.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Livros de civilidade

Manuais de boas maneiras, regras de compostura e de decoro. Esse gênero de literatura da civilidade, antigo instrumento do “bem viver”, se disseminou entre os séculos 18 e 19, com a crescente complexidade das relações em sociedade. O processo de industrialização, a decorrente urbanização e o desenvolvimento das ciências trouxeram novos hábitos e novas demandas no conviver social.
Um dos mais conhecidos livros sobre civilidade voltado às crianças e referência para tantos outros que o sucederam foi De civilitate morum puerilium. Traduzido do francês como A civilidade pueril, este livro escrito por Erasmo,[1] em 1530, trata do vestir, das refeições, do dormir etc.,[2]
Os livros de civilidade são considerados literatura pedagógica ou ainda livros escolares, porque foram usados nas escolas como livros de leitura.
Entre nós, durante o Império, circularam livros de civilidade, influência da cultura francesa.[3] Esses livros, no fim do século 19 compuseram o projeto civilizatório da República e alguns fizeram parte das aulas sobre civismo ou sobre comportamento em colégios religiosos.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE mantém alguns livros de comportamento, de educação para o lar, de boa maneiras etc., classificados como paradidáticos.
Destaco alguns livros de civilidade voltados às crianças:






Polidez Infantil.[4] Livro da “boa educação”, da “distinção das maneiras”, que segundo o autor é o que “nos torna dignos de ocupar nosso lugar na sociedade”.






ABC de Boas Maneiras.[5] –20 lições de boas maneiras para as crianças, com vários exemplos. Na página 83, lê-se: (para os meninos) “Não ponha as mãos nos bolsos das calças. Quando não souber o que fazer com as mãos, cruze-as às costas, como sempre faz o príncipe Carlos da Inglaterra”.





Compêndio de civilidade para uso das famílias e colégios.[6] Os autores são os editores, de acordo o prefácio. Esse livro tem conotação religiosa mas trata também das boas maneira e preceitos de comportamento para as crianças na sua vida social, como “sobre o procedimento à mesa” ou “procedimento na sala de estudo”. O AHLE tem vários livros sobre o tema voltados principalmente às mães, às mulheres e às crianças. Esses últimos na forma de livros de leitura

Uma referência sobre o processo civilizatório é a obra do sociólogo alemão Norbert Elias.[7]

Notas:
[1] Erasmo de Roterdã (1469-1536) tem várias obras sobre Educação.
[2] ERASMO. A civilidade Pueril. Lisboa, Estampa, 1978.
[3] Verificar: SENA, Fabiana. A tradição da civilidade nos livros de leitura no Império e na Primeira República. Tese de doutorado, UFPB, 2008.
[4] YANTOK, Max. Coleção Saber é Poder. Rio de Janeiro, editora J. R. de Oliveira & C. , sem data.
[5] Conselhos do Tio Marcelo, SP, Cia Ed. Nacional, 1962. Tio Marcelo é pseudônimo de Marcelino de Carvalho, conhecido autor paulistano de livros de etiqueta dos anos de 1960.
[6] São Paulo, Livraria editora Salesiana Ltda, 1962, na 16ª edição.

[7] Norbert Elias (1897-1990) publicou em 1936 "O processo Civilizador", obra notável que trata da civilização dos costumes.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Livros paradidáticos portugueses

(1)

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR -AHLE mantém mais de uma centena de livros paradidáticos e de uso escolar vindos de Portugal, da década de 1920 até os anos de 1970.
Provavelmente a facilidade da língua e a proximidade cultural foram fatores para a presença desses livros no acervo da Biblioteca Monteiro Lobato, origem da maioria dos livros que compõem o AHLE. Além do mais até a década de 1970 a tradução e a importação de livros preenchia uma lacuna pela falta de livros editados aqui. Como livro de leitura apresento "Apologos", de Coelho Neto. Coelho Neto foi co-autor, junto a Olavo Bilac de livros escolares, como o livro de Educação Moral e Cívica, "Contos Pátrios", da década de 1920.


Boa parte dos livros portugueses mencionados é de referência, como enciclopédias; livros paradidáticos; alguns de formação de professores; outros de educação de adultos da década de 1950 e a maioria, livros de leitura. Entre outras, as editoras representadas são a Verbo, a Didactica e a Livraria Chardron.



(2)


Destaco, ao lado, parte de uma coleção: seis livros da “Coleção Educativa” do Plano de Educação Popular, voltado para a Campanha Nacional de Educação de Adultos. São livros da década de 1950 e muitos trazem uma subscrição ou referência à Salazar, ditador de Portugal entre 1932 e 1968.
(3)



Muitos livros paradidáticos portugueses foram adquiridos nos anos de 1940 e 1950 e pelo ficha de circulação, bem procurados. Como exemplo, a "Encyclopedia pela Imagem" da Liv. Chardron ou a Coleção "Ver e Saber", dos anos de 1960 da Editora Verbo.
Esses livros mostram a necessidade que havia de importamos edições para a complementação escolar e nos faz pensar que o AHLE em seu conjunto ultrapassa a pesquisa pontual no acervo, pois traz muitas informações sobre produção editorial, políticas públicas para a aquisição de livros etc.
Neste mês de agosto, nos dias 22 a 25, a Universidade Federal do Maranhão abrigará o VIII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação. Nele inscrevi o texto: “Livros escolares no Estado Novo: primeiras aproximações a partir do Acervo Histórico do Livro Escolar”, que apresentarei nas sessões de comunicação. O texto trata da produção didática no período proposto e a interferência direta do Estado, como também aproveita o tema para divulgar o AHLE como fonte de pesquisa.
(1) NETTO, Coelho. Apologos. Porto, Livraria Chardron, 1924.
(2) LEAL, Olavo D. História de Portugal para meninos preguiçosos. Porto, Liv. Tavares Martins, 1943.
(3) VALENTE, Margarida P. B. Virtudes que vem de longe. Coleção Educativa, Campanha Nacional de Educação de Adultos, Lisboa, Ramos, Afonso & Moita, Ltda., s/data.

terça-feira, 13 de julho de 2010

ANTOLOGIAS LITERÁRIAS

(1)
Um acervo com cinco mil volumes exige, além do trabalho mais técnico de permanente organização, atualização da planilha de acesso, verificação e incorporação de doações, o atendimento ao público em geral e ao pesquisador no próprio acervo ou por emeio, instrumento eficaz que diminui distâncias e facilita a comunicação.
São feitas também pesquisas constantes com o objetivo de agregar informações ao ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE, trabalho gratificante, principalmente para quem tem formação na área da Educação e sabe da importância dos estudos históricos para a apreensão do presente.
Em uma dessas investidas conheci uma tese de doutoramento: O espelho da nação: a antologia nacional e o ensino de português e de literatura (1838-1971), de autoria de Marcia de Paula Gregório Razzini, da Faculdade de Letras da UNICAMP, na área de Teoria Literária, defendida em 2000.

Esse trabalho trata da Antologia Nacional (1895-1969) de Fausto Barreto e Carlos de Laet, uma seleta escolar usada durante mais de setenta anos. A tese é um esforço de sistematização da história do ensino de português e de literatura brasileira na escola secundária, e segundo a autora, toma como referência os Programas de Ensino do Colégio Pedro II (escola secundária padrão) e a legislação vigente.
O AHLE mantém um volume dessa antologia de 1955. (2).
O que é uma antologia? Segundo o dicionário HOUAISS, antologia foi utilizada originalmente pela botânica, como ação de colher flores. Talvez aí o sinônimo “florilégio” para designar antologias literárias: coleção de trechos literários, geralmente de autores consagrados, organizados segundo determinado critério.
São várias as antologias que o AHLE resguarda. Exemplares do Napoleão Mendes de Almeida, por exemplo, consagrado autor de livros escolares e conhecido por diversas gerações.





(1) RIBEIRO, Wagner. Antologia Luso-Brasileira. S.Paulo, F.T.D., 1967.
(2) BARRETO, F. e LAET, C. Antologia Nacional. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1955.

terça-feira, 25 de maio de 2010

LIVROS DE LEITURA - SERIE BRAGA


BRAGA, E. Leitura Intermediária. São Paulo, Melhoramentos, 1943. Revista pelo professor Lourenço Filho.


A “Serie Braga”, conjunto de cinco livros de leitura para a escola primária começou a ser preparado por Erasmo Braga (1877-1932) por volta de 1909, conforme seus biógrafos. Erasmo Braga foi pastor presbiteriano, professor do Mackenzie e do Seminário Presbiteriano. A Série, com mais de 100 edições, foi publicada por 40 anos pela Editora Melhoramentos. A partir de 1938, as edições que se seguiram foram revistas pelo professor Lourenço Filho. O conjunto de livros compunha-se de "Leitura I", o primeiro da série, que de acordo com Braga na introdução intitulada "Ao professor" foi “elaborado para o ensino em continuação das cartilhas e das leituras preparatórias”. E adiante, sobre a utilização e bom proveito do livro, o autor esclarece que esse primeiro volume “tem por fim fornecer ao professor material para o ensino da leitura, ao passo que proporciona ao aluno assuntos vários que visam a sua educação intelectual, cívica e moral, sem perder de vista os elementos estéticos.” Segue-se Leitura II, III e IV. "Leitura Intermediária" é outro volume e apontado como “livro de transição entre a cartilha e os de mais desenvolvida leitura corrente”. No ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR está disponível a serie completa, com nove livros, com algumas reedições. Os primeiros, ainda revistos por Erasmo Braga, não tem data, o que é frequente em livros mais antigos. Já as reimpressões revisadas por Lourenço Filho tem edições de 1942 em diante, com prefácio explicativo sobre a obra e as revisões, datado de 1938 e 1939. As diferenças entre as edições do autor e as revistas por Lourenço Filho começam pela capa do livro, mais leve, com letras de desenho suave e fundo claro. Ilustrações, no interior do livro, foram mantidas. Além de mudanças nos termos e na nomenclatura, no "Livro I", por exemplo, são acrescidos exercícios ao fim de cada tema em substituição a pequenas frases, como “Lar doce lar, nada há como o meu lar”. Claro que esses comentários sobre as diferentes edições são bem gerais e quem sabe estimule uma pesquisa mais abrangente. Afinal Lourenço Filho foi um dos renovadores da educação e como professor e organizador de várias coleções de livros escolares, imprimiu o ideário preconizado pelos escolanovistas. Essa "Série Braga" faz parte das publicações de livros de leitura, que foram utilizados até os anos de 1970, quando houve uma reforma na organização e nos conteúdos do ensino no país. O AHLE mantém, por exemplo, inúmeras antologias literárias de uso escolar, recurso que ajudou a propagar a literatura brasileira. Mas isso será assunto para uma outra vez.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

São Paulo nos livros escolares

O Estado de São Paulo atualmente está representado nos livros escolares nas disciplinas de História e de Geografia, didaticamente como história regional.(1) Mas nem sempre foi assim. Desde o século 19 livros escolares de várias matérias e diversos graus de ensino retrataram esse Estado como precursor do desenvolvimento do país. Isso porque São Paulo destacou-se como produtor de café, o que acelerou seu crescimento.
Já no século 20 o processo de industrialização tornou São Paulo um centro urbano emergente e palco de rápidas mudanças. O automóvel foi o meio de transporte mais incentivado a partir dos anos de 1960. Os movimentos migratórios para o trabalho nas multinacionais automobilísticas e, nos anos de 1970, na construção civil, aumentaram a demanda por serviços, moradia e infra estrutura. Enfim, o Estado e principalmente a cidade de São Paulo sofreu intensas e vertiginosas transformações, tornando-se uma das principais cidades da América Latina.
O Bandeirante, figura polêmica e legendária, mas personificada como valente, de larga estatura e destemida, é identificado com São Paulo. Certa “paulistanidade” exerceu fascínio entre paulistas e paulistanos. Pudera, movimentos culturais como a Semana de Arte Moderna de 1922 culminaram em orgulho para os da terra. Em 1932, a Revolução Constitucionalista, produto da perda da hegemonia de São Paulo frente a reorganização do modelo político e econômico do país, imprimiu ainda mais a imagem de irradiador do desenvolvimento desse Estado. Enfim, o regionalismo, em alguns dizeres da época, foi justificado como componente para o fortalecimento de um país com o tamanho e as especificidades do Brasil. A ideia de nação e a integração nacional eram ainda recentes.
Tudo isso, de uma forma ou de outra, está retratado nos livros escolares, o que nos leva a refletir sobre a ampla área de conhecimento que o estudo e a pesquisa no livro escolar pode abranger.
Trago alguns exemplos, nas diversas épocas, de como São Paulo foi abordado nas escolas.


AMARAL, Tancredo. Historia de São Paulo. RJ, Alves e Cia. Editores, 1895.



Neste livro de Educação Cívica do fim do século 19 nota-se que a preocupação na formação da nacionalidade e do patriotismo incide com exemplos de “homens célebres”. Afinal a República era recente e o país precisava fortalecer princípios cívicos.





POMBO,Rocha. História de S.Paulo (resumo didactico). S. Paulo, Melhoramentos, 1923. (1ª ed. em 1918).

Livro destinado as classes primárias e ricamente ilustrado com mapas e reprodução de documentos.





In: POMBO (1923).
Reprodução do Jornal “O Farol Paulistano”, fundado em 1827, que circulou até o inicio dos anos de 1830 na cidade de S.Paulo.







FILHO, Lourenço. Viagem através do Brasil, São Paulo. S.P., Melhoramentos, V. 9, 1955.
Esse livro compõe uma série transmitida pelo Programa Infantil da Rádio Jornal do Brasil, de agosto de 1936 a agosto de 1937. Segundo a apresentação da coleção, “a finalidade dessa Viagem foi dar aos seus ouvintes uma idéia do que é o nosso Brasil, mostrando-lhes os seus usos e costumes, seus homens e sua geografia, sua história e seus recursos naturais”.

(1) São várias as divisões da História. Verificar: BARROS, José D'Assunção. O Campo da História - Especialidades e Abordagens. Petrópolis, Vozes, 2004. Esse livro aborda, de forma bem didática, essa e outras questões sobre a historiografia.

terça-feira, 16 de março de 2010

Mulher nos Livros Escolares








Dia 08 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Protestos de mulheres operárias no início do século 20 nos EUA e movimentos feministas e de emancipação das mulheres nos anos de 1960 deram origem à oficialização dessa data.


(1)
No Brasil, a Lei Maria da Penha de 2006 aumentou o rigor quanto às agressões domésticas contra as mulheres, fato ainda presente na nossa sociedade e demonstrativo que há muito que fazer nesse sentido.

O mercado de trabalho também apresenta distorções em relação a mulher trabalhadora. E mais, as dificuldades da dupla ou tripla jornada, as chefas de família exercendo várias funções e a luta para se impor como cidadã e companheira. Nisso, nem sempre a mídia ajuda.




(2)



Na História da Educação há muitos trabalhos que tratam de questões de gênero. Ora, o livro didático como fonte de pesquisa traduz muito da nossa cultura e nesse sentido reproduz aspectos presentes em determinado contexto. Quanto aos estudos sobre gênero, sem dúvida esse material é bem ilustrativo por trazer como determinados fatos foram e são tratados na escola. Por isso a importância de analisá-lo em uma perspectiva histórica.


(3)

                                                              


(4)

 Algumas ilustrações em livros de uso escolar do AHLE revela-nos como a mulher foi considerada com funções e direitos diferenciados aos dos homens e também as mudanças ocorridas com os movimentos de liberação feminina e a presença da mulher em várias instâncias sociais.























Ilustrações:





(1) BILAC, Olavo. “Poesias Infantis”. São Paulo, Francisco Alves, 1924.
Na capa somente meninos lendo. A escolarização feminina, no início do século 20, não era prioritária.



(2) Lourenço, Filho. "Pedrinho e seus amigos". SP, Melhoramentos, 1963.
      O trabalho doméstico feminino é reforçado.


(3) SERRANO, Isabel. “Quando você casar”. RJ, Ed. A Noite, anos 50.

(4) “Programa Escolar de Pesquisa”. Curitiba. Grafipar, 1978.
O ingresso das mulheres na Universidade a partir da década de 1960.



 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cartilhas e lembranças

(1)



Cartilhas lembram infância, professora primária (a antiga normalista, tão cantada pelos músicos e poetas), as atuais pedagogas, “decoreba” e muito, muito encantamento.
Encantamento porque a cartilha foi e ainda é o meio pelo qual entramos no mundo da leitura.
A origem da palavra cartilha é latina: pequeno caderno que contem as letras do alfabeto. Diminutivo de carta ou de caderno. Carta do ABC. Do grego, temos khártes: folha de papiro de onde vieram carta e carteira.

Muitos consulentes procuram o ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE para “matarem a saudade”.

- Você tem a “Cartilha Sodré?” Eu só quero olhar.
- Eu preciso encontrar a cartilha do “Patinho”. Sabe? Aquela que tem um patinho na capa. Acho que era amarelo. Quero mostrar para o meu filho. Dá para xerocar?
- Será que tem a "Caminho Suave" de 1962? Foi essa que perdi em uma enchente. Não foi agora, não. Faz tempo.
- Olha, fui alfabetizada no Maranhão. Será que encontro a minha cartilha nesse acervo? Não lembro o nome, mas se vejo a capa...

(2)


Um acervo, seja qual for, tem realmente várias funções. A idéia de formar o AHLE foi com o objetivo de organizar fontes de pesquisa, pois o livro didático é um material com inúmeras possibilidades de estudos. Esse objetivo é contemplado com a presença de pesquisadores, estudantes de graduação e consultas por emeio.
Mas, sem dúvida, despertar lembranças tem-se mostrado outra vocação desse acervo.
O AHLE conta com duzentos exemplares, entre cartilhas e primeiras leituras, desde 1894 até meados da década de 1970.

Como exemplo, a cartilha mais antiga do acervo: "Primeiro Livro de Leitura" (ilustração de capa no texto anterior), da Profa Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, data de 1894 e foi editado pela American Book Company, em Nova Iorque. A autora foi a primeira diretora da Escola Modelo, em 1890, quando da reforma da Escola Normal de São Paulo.(3) O livro apresenta 78 lições, por meio de sentenças e com pequenas ilustrações.
Os métodos, os temas e a apresentação gráfica das cartilhas compuseram e compõem a cultura escolar. (4)
Método sintético? Analítico? Construtivista? Misto? O fato é que a cartilha, com mudanças ao longo do tempo, ainda permanece.
(5)

(1) SÃO JOÃO, Helena Ribeiro. "Nossa Cartilha". RJ, Fco. Alves, 1959.
(2) AMOROSO, Cecilia B. dos Reis. "Onde está o patinho?" S.Paulo, Melhoramentos, s/d.
(3) Sobre a Escola Normal de São Paulo, entre outros, verificar MONARCHA, Carlos (1999). "Escola Normal da Praça: o lado Noturno das Luzes." Campinas, UNICAMP.
(4) Vários autores trabalham com a temática da cartilha. Verificar, entre outros, MORTATTI, Maria do Rosário Longo. "Cartilha de alfabetização e cultura escolar: Um pacto secular". Cadernos Cedes, ano XX, no 52, novembro/2000.


(5) OLIVEIRA, Mariano de. "Cartilha Ensino-rápido da leitura".São Paulo, Melhoramentos,1963.